20.5.17

A cidade cinza pedindo por mais cor

Foto: Turismo da Cidade de São Paulo
Diante da visão do senso comum, o grafite oriundo da arte de rua é tradado como marginalização dos espaços urbanos ou deturpação dos patrimônios públicos. Há um pré-julgamento de obras e artistas, que parte não apenas da população em si, mas também de quem nos representa. Prova disso, é que logo no início de sua gestão, o atual prefeito da cidade de São Paulo, João Dória, foi às ruas trajado com roupas de funcionários de limpeza municipal e cobriu com tinta cinza diversas representações pela cidade.

Num breve contexto histórico, o grafite existe desde o Império Romano, com práticas de fazer marcas, inscrições e desenhos em muros, entretanto só ganhou popularidade na década de 70 no Bronx – bairro conhecido pela predominância da população negra – em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Inicialmente, era a maneira que membros de gangues utilizam para comunicar-se entre si. Mas ao longo da história, se tornou marca registrada de frente ao preconceito e injustiças sociais que a população negra sofria à época com abordagens de temas como violência policial e contraste social.

No Brasil, início da década de 80, os primeiros grafites começaram a aparecer nos muros da cidade de São Paulo, com a chamada “liberdade de expressão” perseguida pela Ditadura Militar, era e ainda é considerado crime pela legislação brasileira. O que não podemos esquecer, é que a principal caracterização do grafite é ser público, ou de rua. Atualmente o grafite tem predominância absoluta na capital paulistana sobre qualquer outra forma de arte urbana e pode ter efeito na sociedade podendo ser encarado de diversas maneiras, além de suas oposições (embora esta seja uma de suas características históricas).

São Paulo hoje é considerada por muitos a capital mundial do grafite. Ao caminhar pela cidade, se você olhar para cima ou para os lados, seja num bairro de classe média ou na periferia, os grafites estarão presentes. E num contexto tão monótono e a sobrecarga de informações que recebemos ao andar pelas grandes cidades do país, pesquisadores como Elisa Reifschneider afirmam que o grafite nos proporciona uma experiência única, que permite “sensibilizar o usuário do espaço, fazendo com que ele reflita sobre o manejo do espaço público, sua privatização, controle e agenda”, como ela mesma enfatiza.

O programa “Cidade Linda” imposto pelo atual prefeito, João Dória, não é o primeiro a ser implantado com objetivo de apagar ou coibir ações de grafiteiros pela cidade. Todas as gestões anteriores, independente do partido político, adotaram (ou tentaram adotar) alguma medita combativa, a diferença é que o programa de Dória é tão incisivo, que o próprio se dirigiu aos locais para contribuir com as ações.

Logo, se nas mais altas camadas da nossa sociedade, ainda há dificuldades para se compreender a importância da arte urbana e trata-la de maneira natural, não seria diferente mediante a opinião pública. E claro, tratar o grafite de maneira natural, não é transformá-lo em produto mercadológico, ou partir dele para enriquecer o seu produto – como muito se vê no famoso Beco do Batman, na Vila Madalena – mas também o assimilar como forma de expressão, seja ele belo ou não em sua concepção pessoal.

Obviamente, isso ainda precisa ser fruto de muito trabalho. A desconstrução da marginalização da arte urbana, precisa ser feita e com certa urgência, passando pelo poder e opinião pública, afinal, a cidade conhecida pelos dias de tempo acinzentado, não precisa carregar a tonalidade também aos seus prédios e muros.

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