Foto: Turismo da Cidade de São Paulo |
Diante da visão do senso
comum, o grafite oriundo da arte de rua é tradado como marginalização dos
espaços urbanos ou deturpação dos patrimônios públicos. Há um pré-julgamento de
obras e artistas, que parte não apenas da população em si, mas também de quem
nos representa. Prova disso, é que logo no início de sua gestão, o atual
prefeito da cidade de São Paulo, João Dória, foi às ruas trajado com roupas de
funcionários de limpeza municipal e cobriu com tinta cinza diversas
representações pela cidade.
Num breve contexto
histórico, o grafite existe desde o Império Romano, com práticas de fazer
marcas, inscrições e desenhos em muros, entretanto só ganhou popularidade na
década de 70 no Bronx – bairro conhecido pela predominância da população negra
– em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Inicialmente, era a maneira que membros
de gangues utilizam para comunicar-se entre si. Mas ao longo da história, se
tornou marca registrada de frente ao preconceito e injustiças sociais que a
população negra sofria à época com abordagens de temas como violência policial
e contraste social.
No Brasil, início da
década de 80, os primeiros grafites começaram a aparecer nos muros da cidade de
São Paulo, com a chamada “liberdade de expressão” perseguida pela Ditadura
Militar, era e ainda é considerado crime pela legislação brasileira. O que não
podemos esquecer, é que a principal caracterização do grafite é ser público, ou
de rua. Atualmente o grafite tem predominância absoluta na capital paulistana
sobre qualquer outra forma de arte urbana e pode ter efeito na sociedade podendo
ser encarado de diversas maneiras, além de suas oposições (embora esta seja uma
de suas características históricas).
São Paulo hoje é
considerada por muitos a capital mundial do grafite. Ao caminhar pela cidade,
se você olhar para cima ou para os lados, seja num bairro de classe média ou na
periferia, os grafites estarão presentes. E num contexto tão monótono e a
sobrecarga de informações que recebemos ao andar pelas grandes cidades do país,
pesquisadores como Elisa Reifschneider afirmam que o grafite nos proporciona
uma experiência única, que permite “sensibilizar o usuário do espaço, fazendo
com que ele reflita sobre o manejo do espaço público, sua privatização,
controle e agenda”, como ela mesma enfatiza.
O programa “Cidade Linda”
imposto pelo atual prefeito, João Dória, não é o primeiro a ser implantado com
objetivo de apagar ou coibir ações de grafiteiros pela cidade. Todas as gestões
anteriores, independente do partido político, adotaram (ou tentaram adotar)
alguma medita combativa, a diferença é que o programa de Dória é tão incisivo,
que o próprio se dirigiu aos locais para contribuir com as ações.
Logo, se nas mais altas
camadas da nossa sociedade, ainda há dificuldades para se compreender a
importância da arte urbana e trata-la de maneira natural, não seria diferente
mediante a opinião pública. E claro, tratar o grafite de maneira natural, não é
transformá-lo em produto mercadológico, ou partir dele para enriquecer o seu
produto – como muito se vê no famoso Beco do Batman, na Vila Madalena – mas também
o assimilar como forma de expressão, seja ele belo ou não em sua concepção
pessoal.
Obviamente, isso ainda
precisa ser fruto de muito trabalho. A desconstrução da marginalização da arte
urbana, precisa ser feita e com certa urgência, passando pelo poder e opinião
pública, afinal, a cidade conhecida pelos dias de tempo acinzentado, não
precisa carregar a tonalidade também aos seus prédios e muros.
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