20.9.18

Estudo não muda caráter e o que dignifica o homem está longe de ser o trabalho

João
Imagem: Mercado Livre

João têm 23 anos. É branco, hétero, nascido e criado no sul/sudeste, sempre morou em condomínio e estudou a vida toda em colégio particular. Passou meses no cursinho e enfim, poder dizer que hoje estuda numa universidade federal.


João acredita que o feminismo é bobagem e jamais se casaria com uma mulher que luta por seus direitos (como se a mesma fosse o querer). João acha que racismo é mimimi e cotas são um absurdo, porque todos somos iguais e temos as mesmas oportunidades de vida. João, não tem nada contra LGBTs, só não aceitaria que seu filho fizesse parte desse grupo e por uma pequena incapacidade de diferenciar sexualidade de sexismo, não quer que seu filho tenha contato com isso na escola.


João quer reduzir a maioridade penal e diz que bandido bom é bandido morto! Porque mesmo sem JAMAIS ter pisado numa favela, acha que o pretinho de 15 anos pega em arma porque é safado e merece cadeia. Em tempo, João ignora suas contradições e se diz contra o aborto, porque é a favor da vida e porque não temos o direito de tirar a vida de alguém.


João por vezes acha que ditadura não foi nada disso que aprendemos durante o período escolar, que a escravidão partiu dos próprios africanos, que o nazismo alemão era de esquerda, o holocausto é uma farsa e adora compartilhar fake news.


João não é bobo. É estudado, tem seu trabalho, sua família, mas passa o dia inteiro defendendo seu candidato na internet, criando teorias da conspiração contra “a esquerda e o PT” e trocando ofensa com os amiguinhos que o contrariam.


João está desesperado por um país melhor e sem pestanejar votará 17 nas eleições. Mas longe de mim querer julgar voto alheio, se eu tivesse um candidato que refletisse meus preconceitos por vezes enrustidos, com certeza seguiria essa mesma linha de raciocínio.


A questão que assola o nosso querido João está em não assumir que seu voto não tem nada a ver com política, projetos ou afins. Seu voto é social. Seu voto não é um grito de desavago ou desespero, é um grito de intolerância.


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