15.10.17

QUANTAS JARDAS TEM SEU PRECONCEITO?

Kaepernick à direita, em gesto de protesto
Imagem: Otto Greule Jr/Getty
Assim como Tommie Smith e John Carlos que baixaram suas cabeças e ergueram o braço com punho serrado nas Olimpíadas do México em 1968 e logo depois foram condenados ao ostracismo, jamais voltando a disputar uma edição dos Jogos. Quase 50 anos depois, Colin Rand Kaepernick paga um preço semelhante aos velocistas americanos, após protestar pela mesma causa, o racismo.

“Não vou me levantar para mostrar orgulho por uma bandeira de um país que oprime pessoas negras. Para mim, isso é maior do que o futebol americano e seria egoísta da minha parte fingir que não estou vendo”. Essas foram as palavras proferidas por Kaepernick em 26 de agosto de 2016 num jogo de pré-temporada, onde o ex QB dos 49ers recusou-se a ficar de pé durante a execução do hino nacional americano.

Imediatamente, ouviu-se vaias de boa parte do estádio e uma enxurrada de críticas no Twitter, e assim, o jogador que havia levado sua equipe ao Super Bowl três temporadas antes, se tornou a figura mais centralizadora na NFL em 2016. Coincidentemente, o nível de jogo de Kaepernick caiu na mesma medida em que seus protestos aumentaram e ao fim de 2016, o quarterback encerrou seu contrato em comum acordo com os 49ers, desde então, a discussão extrapolou as linhas do campo e hoje o atleta está sem equipe.

Embora muitos liguem a atual situação de desemprego do atleta apenas ao seu baixo nível técnico apresentado nas últimas temporadas, o argumento não se sustenta na medida em que quarterbacks muito piores se mantém como titulares, ou reservas em diversos times da Liga e não há outro termo a se usar, se não o “boicote”.

Ataque X Contra-Ataque

A discussão se acalorou após uma declaração no mínimo infeliz do presidente norte-americano Donald Trump, quando em um comício no Alabama, o mesmo se dirigiu aos atletas que aderiram o protesto (em especial, Colin) como “filhos da p***” e que todos deveriam ser demitidos da liga.

Após o dito de Trump, diversos jogadores e dirigentes (que inclusive o apoiaram em sua campanha presidencial), como Jerry Jones, dono do Dallas Cowboys, ajoelharam-se de braços dados durante a execução do hino nacional.

Jordan Phillips, dos Dolphins, usa camiseta em apoio a Kaepernick antes de jogo em setembro de 2017
Imagem: Rich Schulltz/AFP

É inegável que a situação de Kap extrapola o campo e se mantém num caminho estreito entre o preconceito e a intolerância. Os Estados Unidos presenciaram recentemente, uma passeata em prol da supremacia branca em Charlottesville, artistas e atletas, como Brandon Marshall do Broncos, perdem patrocínio ao manifestar apoio às causas raciais. A retaliação é escancarada.

A “campanha ofensiva” contra o racismo embora sofra alguns sacks e perca algumas jardas de vez em quando, avança e ganha jardas na medida em que não só jogadores da NFL, mas também de outros esportes americanos de grande visibilidade, se manifestam e mantém a discussão, ou “a campanha” viva a cada first down.

Enquanto a Kaepernick, talvez mais importante que sua volta aos campos, seja o impacto de seu gesto para com não só a Liga como um todo, mas também para uma população que sofre e morre cada vez mais sob a custódia de um racismo institucionalizado, que paira sobre um país cujo presidente parece estar disposto a interceptar cada ação ofensiva contrária a isso.

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