7.4.21

Porque a melhor versão de nós nunca foi na agonia

Capa do Álbum DDGA 
Imagem: Divulgação Rico Dalasam

Existem diversas formas de se contar uma história de amor. Geralmente, as histórias têm personagens apaixonantes, uma construção detalhada, e desafios genuínos que quase sempre terminam em clichês infalíveis. Mas, como contar uma história de amor (próprio)?

Em sua certidão artística, ele ficou conhecido como Rico Dalasam. Mas em sua certidão de nascimento, está Jefferson Ricardo da Silva. Aos 32 anos, o rapper revisitou todas as suas emoções mais dolorosas e intensas e as despejou em forma de arte com o álbum “Dolores Dala Guardião do Alívio”.

Um coração marcado, uma alma cansada, um corpo exausto. Sentimentos e sensações transformados em som e letras que nos revelam mais sobre Jefferson do que sobre Rico na mesma medida em que nos revelam a nós mesmos. Como pode uma obra tão íntima e particular acertar tão em cheio?

Ao discutir o corpo de um negro não sobre o aspecto político ou social, DDGA toca num local profundo e delicado, que por diversas vezes fica não só pouco elaborado no imaginário coletivo, mas também escondido e sucumbido por nós mesmos, homens pretos.

Aberto a discutir, exaltar e transformar relacionamentos inter-raciais e homoafetivos em poesia, Dalasam nos entrega não só muita maturidade em cada faixa, mas um mundo novo, poesias que movem sua mente a campos pouco explorados e cada descoberta você se sente ainda mais vivo.

Aliás, o acrônimo “DALASAM” tem como significado: Disponho Armas Libertárias e Sonhos Antes Mutilados. Talvez, isso nunca tenha feito tanto sentindo num trabalho como agora. Como ele mesmo diz na introdução do disco: “Você é parte da minha parte viva e a gente ainda é a parte viva do mundo”.

Num mundo onde falar de racismo, homofobia e outras pautas dói tanto, é preciso exaltar quem consegue transformar seu alívio em arte. Até porque, ele não poderia falar de alívio se não tivesse doído tanto. E nós, jamais sentiríamos se não fosse verdadeiro.

Se o alívio for um Deus da mesma qualidade do tempo. 

E eu puder ser seu guardião, ser seu sentinela, eu quero”


Pedro Ramos  |  @peedrohramos


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